domingo, 17 de agosto de 2014

A Educação dos Urubus (Ou Não)


Primeiro foram carros de som nas ruas convocando o povo. E chamadas na televisão com idêntico fim. Depois foi a multidão invadindo as ruas. Amanhecendo nas vias da cidade do Recife em grande aglomeração. E seguindo num domingo agitado, com direito a missa campal.

Aplausos. Choros de anônimos. Gritos de “guerra” – também partidários. Cantos religiosos. Pessoas fantasiadas. Demonstrações de amizade com quem sequer se era conhecido. Flashs em demasia. A TV explorando closes impensáveis. Selfies sorridentes junto ao caixão – ou com a viúva. Vaias. Discursos repetitivos. Declarações exageradas que alçavam um homem público a condição de santo. Teve até apresentação musical. E foguetório.

(Ah... Sim. Tinham também familiares e amigos próximos nessa cerimônia de despedida, transformada por muitos num evento festivo – a força de uma família que enfrentou a tudo e a todos com força e dignidade).

E enquanto constatamos, de um lado, uma comoção pública, vimos excessos transmitidos ao vivo. A simplicidade de um povo entristecido contrastando com gente anônima (e também famosa) querendo aparecer em rede nacional. Uma falta de bom senso misturada com o desejo de se despedir de uma figura pública recentemente falecida, de forma trágica e misteriosa. Um show de antagonismos.

O que significa tudo isso? Apenas um povo simples misturado com uma multidão sem preparo para determinadas ocasiões. É a educação dos urubus (aqueles que se aproveitam sempre para aparecer, não importando o luto). É o ainda despreparo da mídia para focar no que deveria ser realmente focado (e, em muitos casos, o mero interesse na audiência). É o uso político em momentos em que não se cabe. É, enfim, o paradoxo de um país ainda jovem que não sabe lidar com determinados fatos marcantes de sua história.



OBS.: talvez toda cerimônia de despedida devesse ter mesmo todos esses ingredientes que vimos no velório e enterro de Eduardo Campos. Ou não...