Primeiro
foram carros de som nas ruas convocando o povo. E chamadas na televisão com
idêntico fim. Depois foi a multidão invadindo as ruas. Amanhecendo nas vias da
cidade do Recife em grande aglomeração. E seguindo num domingo agitado, com direito a
missa campal.
Aplausos. Choros
de anônimos. Gritos de “guerra” – também partidários. Cantos religiosos. Pessoas
fantasiadas. Demonstrações de amizade com quem sequer se era conhecido. Flashs
em demasia. A TV explorando closes impensáveis. Selfies sorridentes junto ao
caixão – ou com a viúva. Vaias. Discursos repetitivos. Declarações exageradas
que alçavam um homem público a condição de santo. Teve até apresentação
musical. E foguetório.
(Ah... Sim.
Tinham também familiares e amigos próximos nessa cerimônia de despedida,
transformada por muitos num evento festivo – a força de uma família que
enfrentou a tudo e a todos com força e dignidade).
E enquanto
constatamos, de um lado, uma comoção pública, vimos excessos transmitidos ao
vivo. A simplicidade de um povo entristecido contrastando com gente anônima (e também
famosa) querendo aparecer em rede nacional. Uma falta de bom senso misturada com
o desejo de se despedir de uma figura pública recentemente falecida, de forma
trágica e misteriosa. Um show de antagonismos.
O que
significa tudo isso? Apenas um povo simples misturado com uma multidão sem preparo
para determinadas ocasiões. É a educação dos urubus (aqueles que se aproveitam
sempre para aparecer, não importando o luto). É o ainda despreparo da mídia para
focar no que deveria ser realmente focado (e, em muitos casos, o mero interesse
na audiência). É o uso político em momentos em que não se cabe. É, enfim, o
paradoxo de um país ainda jovem que não sabe lidar com determinados fatos
marcantes de sua história.
OBS.: talvez toda cerimônia de despedida
devesse ter mesmo todos esses ingredientes que vimos no velório e enterro de
Eduardo Campos. Ou não...