“A internet é o maior território anarquista que já
existiu”. Perdoem-me, mas não lembro onde li essa frase. Sem fonte, mas com a
plena convicção de que o universo virtual se instalou na vida moderna com uma
força imperante, concordo com a afirmação aspada acima, ainda que enxergue esse
território quase sem lei como uma mera extensão do nosso cotidiano social –
ainda mais quando realçamos, nesse contexto, as redes sociais.
Mas deixemos o fator anarquismo de lado. Pensemos
nas citadas redes. Mais especificamente no tão ‘amado’ e ‘odiado’ Facebook, que
chegou realçando a característica anarquista da internet com sua gratuidade,
mas que enfraqueceu o mesmo conceito quando, de forma cada vez mais frequente,
ao que parece, passou a policiar algumas publicações lá exibidas – estou,
evidentemente, deixando de lado outras tantas questões que a transformaram numa
gigante capitalista.
Mas deixemos o fator policiamento (e tantos outros)
de lado. Pensemos no que significa ter um perfil numa rede social. Voltemos ao
conceito de extensão do cotidiano real. Pronto. Aí é que encontramos a natureza
humana por trás do ‘amor’ e do ‘ódio’ ao Facebook. Espelho interessante do que
somos no dia-a-dia.
Relacionamentos virtuais não são, absolutamente,
iguais às relações presenciais. Expor na citada rede dores ou alegrias,
defeitos ou virtudes, conquistas ou derrotas não coloca ninguém em situação
diferenciada. O hipócrita na vida real amplia sua hipocrisia nessa rede. O
mentiroso se encaixa melhor no âmbito virtual. O carente se apega ainda mais no
conforto da virtualidade. O bom encontra terreno aberto para se propagar, assim
como o mau. E por aí vai, afinal, a grande diferença é a facilidade de se esconder
por trás de uma máquina (assim como por tantas vezes nos escondemos sob máscaras).
“Amar” ou “odiar” um instrumento virtual de
socialização nada mais é do que uma forma de exteriorizar a própria forma de
ser. Quem ‘ama’ o faz por adorar expor a própria vida, ou por achar
interessante se relacionar com outras pessoas (muitas que nem mesmo conhece),
ou ficar por dentro das coisas (interessantes ou não) que circulam, ou pelo
dinamismo na comunicação etc. Quem ‘odeia’ o faz por detestar o excesso de
“felicidade” que por lá circula, ou por outras hipocrisias reinantes, ou ainda
pelas manipulações que alguns promovem em posts dos mais diversos... Mas, pergunto:
e tudo isso não encontramos também no cotidiano da vida ‘real’?
Nenhum comentário:
Postar um comentário