quinta-feira, 26 de abril de 2012

De Chico a Januários



O momento musical nosso é pobre. Pouco se faz do novo. Pouco se ousa. Muito se banaliza. O mercado dita as regras da mesmice e os formatos pré-concebidos se perpetuam.

Nesse “mar” sonoro, vez por outra alguém mexe no “caldo”. Chico Science foi um desses. Misturou um monte de coisas e adicionou novo tempero. Deu oxigênio à música nacional lá pelos meados dos anos 90. E, de lá pra cá, têm surgido alguns interessantes projetos inspirados nesse conceito de renovação.

A banda pernambucana Januários faz parte desse time. Na estrada desde o início desse ano para tal fim (pois já existia tocando Rock’n Roll), uniu o peso do Rock ao baião de Luiz Gonzaga e trouxe algo inusitado. “Isso dá rock, velho?”, você pode se perguntar. Para as cerca de 2000 mil pessoas presentes no show de estreia, na concha acústica da UFPE, dá sim. E com a verve irreverente que o velho Lua tinha como marca.

Após seis meses de laboratório e gravações, a banda está divulgando o primeiro CD e agendando shows por onde der pra tocar. E tem dado rock, sim senhor, com a sensibilidade de Luiz Gonzaga soando com voz rouca e guitarra afiada puxando o “fole”. Ponto pros caras.

De Chico a Januários há, claro, uma grande diferença de proporções – aqui não cabe, nem caberia, qualquer tipo de comparação. E talvez você questione o porquê de rock com baião e que esse tipo de mistura não é lá tão novidade. Pode ser. Mas que ouvir Gonzagão ao som de guitarras é pra lá de interessante, isso é. Ponto pros caras.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Sexta-Feira 13. Escureço...

"Capa" do "livro" escrito por um dos assassinos (imagem do JC Online)



A sexta-feira é 13. O dia poderia ser como qualquer outro, mas essa sexta, em particular, reservou-me a escuridão. Deparo-me com mais detalhes sobre os canibais de Garanhuns (PE). Escureço.

Matar. Retirar a pele. Esquartejar. Enterrar os restos. Congelar a carne. Comê-la. Utilizá-la como recheio de salgados que eram vendidos na rua. Escrever um livro relatando com detalhes todos os crimes. Tratar as vítimas como “adolescentes do mal”. Ritual macabro.

Duas mulheres vitimadas por três insanos (um homem e duas mulheres). Que afirmaram “ouvir vozes” ordenando a matança. Que, após os crimes, fizeram compras com o cartão de crédito de uma das vítimas. Mulheres. Atraídas pela oferta de emprego. Assassinadas como se nada fossem.

Com tantos ingredientes, fácil se revoltar. A população saqueou a casa e a incendiou. De nada adianta. Os acusados confessos estão presos. Serão julgados. Condenados. São monstros... Ou apenas seres humanos?

Fácil se revoltar. Mas vale refletir o quanto temos de insanos como os tais assassinos. Uns talvez mais, outros provavelmente menos. Acusar é fácil. Pegamo-nos quantas vezes raivosos, desejando o mal (ainda que não o pratiquemos)? Os pensamentos, contudo, voam. São ações não materializadas. Desejamos a maldade que não temos coragem de fazer (isso quando não a fazemos). Isso é tão ruim quanto, não duvideis – guardadas as justas proporções.

O mal é escuridão – ausência de luz. Somos todos duais. Antes de qualquer raiva ou julgamento dos acusados, sinto compaixão. Lamento pelos atos loucos e malignos tanto quanto pela vida das vítimas. Compartilho a dor dos familiares e ponho-me no lugar deles. Choro por dentro. Escureço...

sábado, 7 de abril de 2012

(in)JUSTIÇA(do)




Eu sou a sede de justiça do mundo. Tu és o dedo acusador da humanidade. Por que se apontar para mim, então?

Está bem. Não sou santo. Nem demônio. Aliás, sou santo e demônio. Assim como tu. Permeando tudo. E todos. A acusação, contudo, não é justa. E se aqui o mal é necessário, ai daquele que o comete.

Saio, então, consciente disso. Não sou vítima. Nem algoz. Aliás, sou vítima e algoz. Assim como tu. Permeando tudo. E todos. A ação consciente, contudo, não é minha. E se agora assim o fazes, colherás.

Torno-me o dedo acusador do mundo. Eu sou a sede. Beba-me...

quarta-feira, 4 de abril de 2012

EGO

"Conhecer os outros é inteligência, conhecer-se a si próprio é verdadeira sabedoria; controlar os outros é força, controlar-se a si próprio é verdadeiro poder".
(Lao-Tse)






O poder de poder nos persegue. Vem da nossa ânsia em querer mais. Do nosso apego às sensações, que nos força a limitação, que gera uma ânsia sem fim. Nunca estamos, assim, satisfeitos. E, nesse jogo, o ego surge imponente.

O ego é o nosso maior inimigo. E também pode ser o nosso maior amigo. Nossa relação com essa personagem meramente humana aponta para o sucesso ou o fracasso em vida. O segredo está na forma como aprendemos a encará-lo e, acima de tudo, de nos relacionar com ele.

Do mendigo miserável que pena na rua ao Presidente dos Estados Unidos, todos somos iguais em essência – uns mais conscientes disso, outros menos. A escala social em nada anula a nossa composição humana. Nossa capacidade de nos conhecer e nos combater, sim.

Não somos o ego. Estamos com ele. Dominá-lo é a meta. De nada adianta amealhar dinheiro, domínio, regalias. Nada disso satisfaz. Dominar-se, sim, é a felicidade. Trabalheira. Exercício permanente. Desafio. É preciso, assim, escolher esse caminho.

E enquanto a maioria dos seres que habitam esse planeta mergulha nas efemeridades da vida, com suas muletas e consolos temporários, há os que buscam a razão. Entre “corrupções”, “bundas” e “violência” há espaço para pensar. Agir. Mudar. É só uma questão de escolha.