sábado, 24 de novembro de 2012

Estou Morrendo!


O diagnóstico é preciso: estou morrendo. Tenho alguns dias de vida. Imprecisos, mas o certo é que não estarei por tanto tempo assim nesse mundo.

O relógio apressa o passo. Cada vez mais os ponteiros parecem querer tão somente me contrariar. Contudo, ao invés de lamentar o tempo que me faltará, tentarei enaltecer os dias que me restam. São eles que devem nortear meu prumo. São eles que me fazem ser – ao menos aqui nesse plano.

Recebi esse diagnóstico há 37 anos. Quando cá cheguei. O mundo me tratou com festa, ignorando que o meu chegar tinha prazo de validade. Impuseram-me a pecha de pobre mortal e pecador. Cresci. E descobri que nada disso é verdade – exceto pelo infalível tempo de estada. Hoje, espero a minha sentença: a morte!

Eis a nossa sentença. Perdemo-nos nas nossas próprias hipocrisias. Tropeçamos nas nossas autolimitações. Tememos a morte. Preocupamo-nos tanto com ela que esquecemos como devemos realmente viver.

O mais engraçado nisso tudo é que essa tal morte faz parte da vida. Estou vivo. E após partir estarei... Vivo! Não sou pecador. Nem um pobre mortal. Apenas sou. “Vivo” ou “morto”, apenas sou. E estou mesmo morrendo... Graças a Deus!

***

Sábado, 01/12, 18h, performance e Noite de Autógrafos de "A Grande Ilusão" na Saraiva do Riomar Shopping!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Rio




Rio...
Águas que me fazem
Expor os dentes.
Rio dos córregos
Que me margeiam.
Rio do riso cristalino.
Rio do rio
Que em mim percorre.
Rio de mim,
Rio de ti,
Rio de nós...


(poesia minha que abre o meu novo romance, "A Grande Ilusão")
Compre o seu aqui!
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domingo, 7 de outubro de 2012

Deu Branco em Mim


Há anos venho me traindo. Sim. Eu que tanto prezo pela coerência. Que tanto cobro por mudança (começando por mim mesmo). Que tanto me desafio para ser alguém melhor. Venho, sim, me traindo. Mas hoje tomei uma decisão para acabar com isso. E me traí novamente para acabar com as minhas autotraições. Explico.

Ainda votante em Olinda (PE), não consegui encontrar um candidato que merecesse o meu voto. Tentei fazer o que vinha fazendo antes. Votando no “menos ruim em potencial”. Deu não. Eu vinha, sim, me traindo a cada pleito eleitoral, excluindo os péssimos e votando nos “menos ruins”, sem a menor convicção. Traição.

Hoje, todavia, acordei e decidi fazer diferente. Não escolhi ninguém. Ninguém mereceu o meu voto. Assim, evitei a autotraição já referida. Mas a traição perdurou. Meu voto em branco não foi um protesto, mas uma incapacidade de valorizar capazes. E nessa atitude traí-me também por me excluir do processo de gestão da cidade nos próximos quatro anos.

Arrependido? Sim. E não. Decepcionado? Com certeza. Enquanto os projetos políticos tiverem como base a ocupação do poder – e não o interesse da maioria – permanecerei me traindo, quer votando nos “menos ruins”, quer passando em branco.

O voto é fundamental para o processo democrático, mas não se deve perpetuar a lamentável situação política do país. Algo precisa ser feito – e não acredito que votar em branco seja a solução (e não me pergunte qual é, então, porque ainda não sei a resposta). Pois é. Deu branco em mim...

domingo, 12 de agosto de 2012

Pais. País. Em mim...



Pai. Palavra adormecida. Vitimada pela irresponsabilidade e descaso de alguns. Mas não abandonada.

No meu dicionário é presença. Apoio. Exemplo. Carinho. Amor. Dedicação. Esforço. Responsabilidade.

Palavra viva. Enaltecida pelo meu próprio pai. Acentuada pelo amor gigante ao meu filho. Perpetuada pelo meu esforço em ser um filho grato e amoroso e um pai em iguais termos.

Guardo em mim a imagem de quando criança. Meu herói. Espelho. Meta. E continua assim.

Tenho em mim esse reflexo brilhando em meu filho. Minha cria. Motivação. Esteio. E miro esse perpetuar em mim.

Nessas linhas simples, homenageio o meu pai, José Luiz, e o meu filho, Victor Hugo. E homenageio, enfim, também a mim. Sim. Afinal, somos um. Simples assim...

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Uma Nova Etapa...


"A Grande Ilusão" saiu do forno. Será lançado amanhã (sábado 04) em São Paulo e dia 23 desse mês em Recife. Ganhará o Brasil a partir de setembro. É a largada para uma nova etapa. O trabalho continua!

Nesse processo natural, algumas novidades surgirão - aliás, já estão surgindo e vou noticiando-as quando for pertinente. De momento quero tão somente exibir o novo visual deste blog e publicar o teaser do livro, já divulgado pelas redes sociais (assista abaixo).

Vamos que vamos!!!


sexta-feira, 29 de junho de 2012

O Traço e o Risco



Traço um traço,
Risco e me arrisco
Nesse riscado,
Escrevo
E me atrevo a escrever.


Pena que a pena
Que agora me serve às ideias
É esferográfica...


E a tinta acabou.


(poesia publicada no meu primeiro livro, "O Que Importa é o Caminho", de 2004)

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A Ilusão da Mídia (e dos Famosos)


Escândalos. Sensacionalismo. Manipulação. Hipocrisia. Eis alguns dos adjetivos mais certeiros para aquilo que chamamos de mídia. Uma pobreza só...

Um dia, a atriz que nunca aceitou proposta para posar nua, tem fotos pessoais sem roupa vazadas na internet (se tirava fotos nua em casa é porque tinha vontade não?). E, tirando a questão da extorsão e da invasão de privacidade, a popularidade da moça sobe (sabe-se lá o que realmente aconteceu!).

Noutro dia, uma famosa apresentadora faz entrevista exclusiva para falar da vida íntima. Com uma imagem de “inocência” incompatível com a idade, fez carinha boba o tempo todo e revelou ter sofrido abusos sexuais na infância (por que não tocou no assunto do filme em que aparece nua na cama com um garoto de 12 anos?). E, tirando a gravidade do fato passado, a popularidade da moça sobe.

Essa semana um vídeo de uma jornalista baiana se multiplicou na web, a loirinha humilhando o bandido negro acusado de estupro, protagonizando imagens absurdas ao usar do sarcasmo seguidas vezes para ilustrar a ignorância de linguagem do rapaz (bandido também é gente e acusado não é criminoso – até que se prove o contrário). E, tirando o fato das imagens serem de uma matéria “jornalística”, a popularidade da emissora cresce (nesse caso, à base da negatividade – mas mídia é mídia!).

Não bastassem esses exemplos, uma revista de grande circulação tem seu nome envolvido no lodo que permeia a política nacional. O poder como meta, não importa o preço a se pagar. E, tirando a veracidade da denúncia (nessa hora não dá pra saber quem é mais sujo e quem quer aparecer mais), a popularidade da revista sobe (também de forma negativa).

“Fale bem ou mal, mas fale de mim”: artistas, famosos e veículos de comunicação andam de mãos dadas para gerar audiência a qualquer preço. Os objetivos de manipular a opinião pública vão cada vez mais percorrendo caminhos menos nobres e mais mesquinhos. E, tirando a infeliz aculturação geral da massa, continuamos aumentando as suas popularidades.

Escândalos. Sensacionalismo. Manipulação. Hipocrisia. Eis alguns dos adjetivos mais certeiros para aquilo que chamamos de mídia. Uma pobreza só...

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Eu Tive Uma Ideia!



Achei que tinha achado
Algo que perdi
Foi quando me veio a ideia:
Quero achar algo que não perdi!
Tudo isso causou estranheza
Não perdi por que não achei
Ou não achei por que não perdi?

Agora estou eu confuso
Perdido no que não achei
Querendo saber como me perdi...

Mas se perdido estou
No que eu não achei
Recorro à quinta estrofe
Que trará a solução!

Foi-se a rima.
Foram-se as ideias.
Adeus, então...

(Sidney Nicéas e Albanizia Diniz)


quinta-feira, 26 de abril de 2012

De Chico a Januários



O momento musical nosso é pobre. Pouco se faz do novo. Pouco se ousa. Muito se banaliza. O mercado dita as regras da mesmice e os formatos pré-concebidos se perpetuam.

Nesse “mar” sonoro, vez por outra alguém mexe no “caldo”. Chico Science foi um desses. Misturou um monte de coisas e adicionou novo tempero. Deu oxigênio à música nacional lá pelos meados dos anos 90. E, de lá pra cá, têm surgido alguns interessantes projetos inspirados nesse conceito de renovação.

A banda pernambucana Januários faz parte desse time. Na estrada desde o início desse ano para tal fim (pois já existia tocando Rock’n Roll), uniu o peso do Rock ao baião de Luiz Gonzaga e trouxe algo inusitado. “Isso dá rock, velho?”, você pode se perguntar. Para as cerca de 2000 mil pessoas presentes no show de estreia, na concha acústica da UFPE, dá sim. E com a verve irreverente que o velho Lua tinha como marca.

Após seis meses de laboratório e gravações, a banda está divulgando o primeiro CD e agendando shows por onde der pra tocar. E tem dado rock, sim senhor, com a sensibilidade de Luiz Gonzaga soando com voz rouca e guitarra afiada puxando o “fole”. Ponto pros caras.

De Chico a Januários há, claro, uma grande diferença de proporções – aqui não cabe, nem caberia, qualquer tipo de comparação. E talvez você questione o porquê de rock com baião e que esse tipo de mistura não é lá tão novidade. Pode ser. Mas que ouvir Gonzagão ao som de guitarras é pra lá de interessante, isso é. Ponto pros caras.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Sexta-Feira 13. Escureço...

"Capa" do "livro" escrito por um dos assassinos (imagem do JC Online)



A sexta-feira é 13. O dia poderia ser como qualquer outro, mas essa sexta, em particular, reservou-me a escuridão. Deparo-me com mais detalhes sobre os canibais de Garanhuns (PE). Escureço.

Matar. Retirar a pele. Esquartejar. Enterrar os restos. Congelar a carne. Comê-la. Utilizá-la como recheio de salgados que eram vendidos na rua. Escrever um livro relatando com detalhes todos os crimes. Tratar as vítimas como “adolescentes do mal”. Ritual macabro.

Duas mulheres vitimadas por três insanos (um homem e duas mulheres). Que afirmaram “ouvir vozes” ordenando a matança. Que, após os crimes, fizeram compras com o cartão de crédito de uma das vítimas. Mulheres. Atraídas pela oferta de emprego. Assassinadas como se nada fossem.

Com tantos ingredientes, fácil se revoltar. A população saqueou a casa e a incendiou. De nada adianta. Os acusados confessos estão presos. Serão julgados. Condenados. São monstros... Ou apenas seres humanos?

Fácil se revoltar. Mas vale refletir o quanto temos de insanos como os tais assassinos. Uns talvez mais, outros provavelmente menos. Acusar é fácil. Pegamo-nos quantas vezes raivosos, desejando o mal (ainda que não o pratiquemos)? Os pensamentos, contudo, voam. São ações não materializadas. Desejamos a maldade que não temos coragem de fazer (isso quando não a fazemos). Isso é tão ruim quanto, não duvideis – guardadas as justas proporções.

O mal é escuridão – ausência de luz. Somos todos duais. Antes de qualquer raiva ou julgamento dos acusados, sinto compaixão. Lamento pelos atos loucos e malignos tanto quanto pela vida das vítimas. Compartilho a dor dos familiares e ponho-me no lugar deles. Choro por dentro. Escureço...

sábado, 7 de abril de 2012

(in)JUSTIÇA(do)




Eu sou a sede de justiça do mundo. Tu és o dedo acusador da humanidade. Por que se apontar para mim, então?

Está bem. Não sou santo. Nem demônio. Aliás, sou santo e demônio. Assim como tu. Permeando tudo. E todos. A acusação, contudo, não é justa. E se aqui o mal é necessário, ai daquele que o comete.

Saio, então, consciente disso. Não sou vítima. Nem algoz. Aliás, sou vítima e algoz. Assim como tu. Permeando tudo. E todos. A ação consciente, contudo, não é minha. E se agora assim o fazes, colherás.

Torno-me o dedo acusador do mundo. Eu sou a sede. Beba-me...

quarta-feira, 4 de abril de 2012

EGO

"Conhecer os outros é inteligência, conhecer-se a si próprio é verdadeira sabedoria; controlar os outros é força, controlar-se a si próprio é verdadeiro poder".
(Lao-Tse)






O poder de poder nos persegue. Vem da nossa ânsia em querer mais. Do nosso apego às sensações, que nos força a limitação, que gera uma ânsia sem fim. Nunca estamos, assim, satisfeitos. E, nesse jogo, o ego surge imponente.

O ego é o nosso maior inimigo. E também pode ser o nosso maior amigo. Nossa relação com essa personagem meramente humana aponta para o sucesso ou o fracasso em vida. O segredo está na forma como aprendemos a encará-lo e, acima de tudo, de nos relacionar com ele.

Do mendigo miserável que pena na rua ao Presidente dos Estados Unidos, todos somos iguais em essência – uns mais conscientes disso, outros menos. A escala social em nada anula a nossa composição humana. Nossa capacidade de nos conhecer e nos combater, sim.

Não somos o ego. Estamos com ele. Dominá-lo é a meta. De nada adianta amealhar dinheiro, domínio, regalias. Nada disso satisfaz. Dominar-se, sim, é a felicidade. Trabalheira. Exercício permanente. Desafio. É preciso, assim, escolher esse caminho.

E enquanto a maioria dos seres que habitam esse planeta mergulha nas efemeridades da vida, com suas muletas e consolos temporários, há os que buscam a razão. Entre “corrupções”, “bundas” e “violência” há espaço para pensar. Agir. Mudar. É só uma questão de escolha.

quinta-feira, 22 de março de 2012

(Do Virtual ao Real)



A internet é apenas uma extensão da vida social humana.

Nada mais.

Nela, o virtual faz-se cópia do que definimos ser real.

Belo. Feio. Crime. Solidariedade. Hipocrisia. Acusação. Pornografia. Fofoca. Amizade. Falsidade. Amor. Paixão. Curtição. Futilidade. Pensamento em ação (do virtual ao real).

A sociedade humana é apenas a materialização do mundo interior individual.

Nela, o material faz-se cópia do que definimos ser imaterial.

Belo. Feio. Crime. Solidariedade. Hipocrisia. Acusação. Pornografia. Fofoca. Amizade. Falsidade. Amor. Paixão. Curtição. Futilidade. Pensamento em ação (do virtual ao real).

A internet é o invisível palpável da sociedade humana.

O mundo material é o visível do nosso mundo imaterial.

Real e virtual se misturam. Lá e cá. Nós e vós. Eu e você.

Eis a verdadeira conexão. Quer se acredite, quer não.

Somos todos conectados.

Nada mais...

sexta-feira, 16 de março de 2012

"A Grande Ilusão"



Uma adolescente.
Um padre.
Uma confissão.
Uma história inacreditável para os ouvidos de uma garota.
Um inesperado desfecho para um padre temente.
Surpreenda-se com ‘A Grande Ilusão’...

*

Com uma narrativa sagaz e repleta de sensualidade, Sidney Nicéas vai fundo na alma de um padre atormentado pela sua própria natureza sexual, frente a frente com uma adolescente virgem decidida a tê-lo como “o primeiro” da sua vida.

Existe homem santo?


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Esse texto deverá fazer parte da contra-capa do meu novo livro, o romance "A Grande Ilusão". Aguardem...

quinta-feira, 8 de março de 2012

Por um Mundo Mais Efeminado

“A mulher que inspira a humanidade com amor maternal está concedendo a maior bênção que tem”. (Paramahansa Yogananda)




Mulher submissa já era. O mundo masculino já deu. É chegada a hora de efeminar...

Chega da truculência masculina no poder. O mundo masculino rui. E vem ruindo dia a dia, perdido na ânsia pelo poder. Nesse ruir, outro mundo começa a surgir. Menos raivoso. Mais efeminado. Mas há de se ter cuidados.

O mundo não precisa de mulheres masculinizadas. Tatcher, Merkel, Condoleezza, Dilma (?)... Nada de protótipos masculinos de saia. É preciso que a força da sensibilidade e da afetividade invada o globo.

O planeta não precisa de mulheres-homens. Bêbadas. Drogadas. Promíscuas (como muitas que têm surgido por aí). É preciso que o charme e a retilinidade feminina norteiem a nossa tão atribulada vida social.

Não importa o sexo, nem a opção sexual. Importa que a força da mulher se contraponha ao machismo que sempre vigorou e, daí, surja o equilíbrio entre essas forças que aqui habitam. Eis, para mim, o maior significado desse dia de hoje, o Dia Internacional da Mulher.

Mulher submissa já era. O mundo masculino já deu. É chegada a hora de efeminar...


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* Parabéns, mulheres!

sexta-feira, 2 de março de 2012

Aos Religiosos, Agnósticos e Ateus...




Hoje é o Dia Mundial da Oração. E orar nada mais é do que perpetuar nossa conexão com o Divino. Não tem nada a ver com religião. Tem tudo a ver com a nossa capacidade de nos conectar com a força que rege o Universo. Nada mais.

Pedir, não. Fazer. Cuspir palavras ao léu, não. Sentir. Mentir e fingir fé, não. Crer. Já passou da hora de sermos verdadeiros com a realidade invisível que nos cerca. É chegada a hora de ser o algo mais que tanto cobramos do outro. Chega de falar. Chegou o momento de agir.

Orar não tem sentido se não estiver em sintonia com a ação. Rezar a Deus (ao Universo, à força motriz do cosmos, seja lá como se acredite) é ser grato pela vida gratuita que recebemos ao chegar aqui e, acima de tudo, tornar-se base para uma atividade divina no dia-a-dia. Sim, somos seres divinos na carne.

Religiosos, agnóstico, ateus, pretos, brancos, homens, mulheres... Façamos da nossa ação uma oração permanente. Oremos e ajamos para fazer desse mundo um lugar melhor. E não somente hoje, mas todos os dias da nossa existência terrena.

Luz e paz, hoje e sempre! É do que estamos precisando...

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Sinto o Vazio em Mim...



Penso no vazio. Imagem oca de mim. O nada vívido. Assim como o nada é. Todo. Cheio. Vazio.

Hoje. 29 de fevereiro. Dia vazio. Quase inexistente. Cheio. Repleto. Assim como todo dia o é.

De imagem em imagem, sou. De hora em hora esse dia é. E assim percorremos o nosso calendário temporal.

Sinto o vazio em mim...

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Milagre Urbano



Uma tarde ensolarada. Um domingo qualquer. Um parque qualquer. Sentado à beira da lagoa, o homem velho, cabelos grisalhos quase brancos, bem vestido e de fisionomia oriental, dava comida aos peixes. Distante da agitação da garotada, o homem concentrava-se na beleza da vida.

Há poucos metros de distância, porém, formou-se um pequeno aglomerado de pessoas. Ao centro, um pastor evangélico com uma bíblia embaixo do braço arrumava cuidadosamente o local. Quatro banquinhos foram colocados em círculo, ficando ao centro das pessoas que ali assistiam. Sentaram os religiosos: um padre católico, um espírita, uma mãe de santo e um judeu. Com seus trajes “de gala”, todos se ajeitavam para iniciar a “informal” reunião.

O velho homem observava de longe o que se transformaria num debate religioso em praça pública. O assunto, polêmico por natureza, era uma discussão sobre o melhor caminho para se chegar a Deus, segundo os preceitos filosóficos que cada um tinha. Enquanto o evangélico se exaltava dizendo ser Jesus a melhor saída, o espírita apontava Kardec como solução. O judeu, por sua vez, colocava a esperança no Torá, enquanto o padre se benzia, rezando o Pai Nosso em voz baixa. A mãe de santo a tudo ouvia, mas em seu colo jogava os búzios para encontrar a melhor resposta.

De explanações convictas o debate passou a ser uma guerra de palavras: o padre acusava o pastor de ignorante; a mãe de santo dizia que com “uns trabalhos” poderia fazer qualquer um mudar de opinião; o espírita não aceitava a acusação de que seus conceitos tinham a pretensão de transformar Kardec no novo Cristo do mundo; e o judeu passou a falar sua língua natal, sem deixar ninguém entender o que dizia. A perturbação sonora era tamanha. Ninguém mais entendia o que o outro falava e as palavras voavam como flechas pontiagudas.

As agressões chegaram a tamanho extremo que o velho oriental, que assistia a tudo passivamente, interveio naquela imensa confusão. Adentrando no círculo, posicionando-se entre todos os religiosos, o velho ordenou silêncio. E assim o silêncio se fez.  Todos, espantados com a repentina interferência do velho, pararam para observar o que o homem tinha pra falar. Dizendo estar cansado de tanta incompreensão e ignorância, contou uma história que parecia responder àquilo tudo que ali era discutido:


“Um dia, Deus, cansado da sua rotina nos céus, resolveu dar um pulinho na Terra para ver como a coisa estava. Teve a divina idéia de fazer um relatório sobre a situação crítica do mundo e, a partir dele, tomar as providências necessárias. Decidiu partir sozinho, naquele exato momento, curioso para saber como o ser humano vinha se comportando. Como Ele não aparecia pessoalmente no planeta há alguns milhares de anos, não custava nada ver de perto o que seus assistentes tanto falavam. E não eram lá coisas muito boas”.

“Preocupado com os boatos espalhados sobre as insanas investidas de um país que queria dominar o mundo, fez dos Estados Unidos o seu primeiro ponto de parada. Apareceu bem no centro de Nova York, celeiro financeiro do mundo. Perplexo com a correria das pessoas atrás de uma fantasia material, Deus caminhou lentamente pelas ruas observando o clima insensível da metrópole e toda aquela poluição. Iniciou uma profunda
observação na vida cotidiana daquelas pessoas e a sede de consumo que nelas existia, percebendo, também, a desigualdade social que ali havia apesar de se tratar de um país rico e poderoso. Sempre por deveras atencioso, Ele registrava todos os detalhes importantes em sua poderosa mente divina”.

“Deus continuava em sua caminhada quando, de repente, alguém gritou aflito: - “Cop! Cop! A terrorist is Here! Help!”. Confundido com um terrorista, devido a sua imensa barba branca, narigão e roupas compridas, Deus notou que três policiais logo partiram em sua direção. Comunicando-se através de rádio com outras viaturas, os policiais iniciaram uma corrida na tentativa de capturá-lo. Percebendo a encrenca em que se metera, Ele só encontrou uma forma de evitar um verdadeiro incidente internacional e intercelestial: sumiu repentinamente, aparecendo logo em seguida nas proximidades da Casa Branca”.

“Momentos depois, todo país estava em alerta máximo contra um possível ataque terrorista. Sem querer interferir ainda mais naquele perturbado cotidiano, Ele resolveu concluir seus registros mentais antes de partir para outro país, dando sequência à viagem”.

“Ao terminar suas observações, Deus percebeu uma pacífica manifestação em frente à sede do governo americano, que a essa altura já estava se desfazendo devido ao alerta antiterrorista. Os manifestantes, já dissipados, protestavam contra a insistência do governo em não respeitar alguns tratados de preservação do meio ambiente. Observando àquilo tudo, Deus achou importante registrar à digna preocupação daquela pequena parcela da população sobre a vida no planeta. O paradoxo lhe pareceu pertinente ao teor da sua missão. Com isso, estalou os dedos e, em frações de segundos, já se encontrava no Vaticano, na Itália, segundo ponto de parada previsto em seu roteiro”.

(Continua...)

Milagre Urbano (Continuação)

“Surgindo em frente à entrada da ostentosa sede da religião católica, Deus preferiu uma aparência mais comum, pretendendo evitar um incidente semelhante ao acontecido nos Estados Unidos: transformou-se então num mendigo, de pele escura e cabelos crespos. Como pretendia visitar o líder religioso de maior expressão do planeta, achou que o disfarce seria realmente eficaz para a conquista do seu objetivo”.

“Chegando aos portões do Vaticano foi logo barrado pelos seguranças: - “Non si puó entrare vestita cosí”, soltou o verbo um dos guardas. Abismado, Deus não conseguiu nem contra-argumentar. Porém, um grupo de turistas argentinos percebeu o absurdo e aproximou-se, interferindo na situação. Começou então um bate-boca intenso entre os guardas e os turistas. Troca de insultos, palavrões e muito empurra-empurra fizeram Deus tentar amenizar toda aquela confusão que ali se formara. O tumulto cresceu a tal ponto que Ele foi até empurrado por um dos seguranças. Percebendo a agitação, um membro da igreja decidiu aparecer e acalmar os ânimos, convidando o “mendigo” a entrar na “casa de Deus”.

“Deus, assim, foi conduzido a uma pequena sala para ser ouvido. Enquanto aguardava ser atendido por um funcionário, observou o luxo e o excesso de riqueza do lugar, registrando tudo em sua poderosa mente, sem deixar ninguém perceber. Somente uma hora depois é que foi recebido por uma mulher bastante antipática, que lhe informou só ser possível falar com o Papa dali há um ano. Deus agradeceu e saiu decepcionado”.

“Já fora do luxuoso prédio, Ele sentou num banquinho de praça e pôs-se a pensar, ampliando os registros já realizados. Sua decepção estava estampada no rosto. Mesmo assim, encerrou suas observações e partiu para a terceira e última parada no planeta: o Brasil”.

“Sabendo que o país ao qual ia visitar tinha um povo miscigenado e com fama de alegre e acolhedor, e também desejando evitar um incidente parecido com o vivenciado na entrada do Vaticano, Deus resolveu mudar novamente de aparência: estalando os dedos, estava de terno e gravata e possuía no rosto traços orientais. Num novo estalar de dedos apareceu, uma fração de segundo depois, na Praia de Boa Viagem, em Recife, capital de Pernambuco, centro cultural do Brasil”.

“Caminhando lentamente pelo calçadão, Deus passou a observar o contraste bizarro comum às grandes cidades: prédios luxuosos abrigavam carros do ano e vidas mergulhadas na riqueza, enquanto que na praia mergulhavam no mar cidadãos pobres, sedentos por uma boa e gratuita diversão. Já ciente dos rumos que o seu relatório estava tomando, parou do outro lado da avenida, numa esquina, a fim de ampliar os seus já conclusivos registros mentais”.

“Deus, coitado, não teve tempo nem de se encostar no muro: foi abordado por três bandidos armados, que colocaram um revólver em sua nuca e já foram exigindo dinheiro: - 'Bora, véi! Passa a grana aí! E num brinca não que o negócio é sério!'. Admirado com a falta de limites daquele mundo tão materialista, Ele não teve dúvidas: soltou o braço nos três bandidos e, numa fração de segundos, desapareceu. Os ladrões ficaram desorientados, sem entender como aquele velho homem conseguira escapar do assalto sem deixar nenhum rastro. Um dos ladrões, inclusive, jurou por Deus que nunca mais ia assaltar. Que ironia, não?”.

“Surgindo num parque qualquer, Deus sentou à beira da lagoa e pôs fim ao seu importante relatório. Após concluir suas observações, parou para dar comida aos peixes e admirar a beleza da vida, observando a bonita paisagem que Ele mesmo projetara para aquele lugar. Baseado nos resultados colhidos decidiu fazer uso do seu poder e aparecer, simultaneamente, em todos os países do mundo para deixar uma mensagem moral aos religiosos do planeta”.

“Com isso, Deus arquitetou reuniões “informais” e induziu homens de diferentes religiões a se encontrarem e discutirem os efeitos das suas crenças na Terra, bem como avaliarem os melhores caminhos para se chegar ao Pai. Inserindo-se em cada uma daquelas reuniões, Deus condenou todos os graves desvios da humanidade que presenciara. Ele, assim, deu uma verdadeira lição de moral naqueles que se diziam Seus representantes no planeta e, no entanto, se perdiam nas tentações do dinheiro e do poder e estacionavam nos porões da ignorância”.


                Ao concluir aquela incrível história o velho homem simplesmente desapareceu, deixando naquelas pessoas um sentimento estranho, que misturava dúvida, culpa e esperança. Perplexos, os religiosos dispersaram-se num silêncio absoluto. E, assim, aconteceu mais um inusitado e inesperado milagre urbano...


(Conto publicado no meu primeiro "O Que Importa é o Caminho", 2004)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Crime na Rua da Consolação


Caía a tarde como folhas,
Pingos d’água como lágrimas,
Corpo ao chão como grão.
Mãos de sangue tremulavam
Como folhas caídas à tarde,
Como lágrimas em queda d’água,
Grão de morte plantado no chão.

Vida tardia, inconsolável.
Tardias algemas, rua, prisão.
Tarde fria, chuva, lágrimas.
De corpo em corpo, plantação...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O Atrativo da Morte Anônima



Em meio a um tumulto inesperado, na beira da praia, descobriu-se o motivo de tanta agitação: um corpo jogado sobre a areia, possivelmente atacado por um tubarão.

Apesar de já ser quase que corriqueiro esse quadro mortífero na beira-mar do nosso litoral, o espanto e o medo sempre atingem a qualquer um. Eu, por exemplo, fiquei estático quando vi o estado do corpo daquele homem estirado no chão, como se fosse um mero pedaço de carne sobre ossos esbranquiçados. E, na verdade, não passava disso mesmo.

Em volta do cadáver cada vez mais uma multidão se formava, sedenta, devorando com os olhos o que o tubarão já havia feito com os dentes. Nos poucos instantes que parei para olhar, ainda pude ver membros da família do defunto chegar para reconhecer o corpo, entrando num estado emocional chocante. Pude perceber o quanto somos frágeis para a maior certeza da vida: a morte.

A cena ficou na minha mente. Tentei seguir friamente sem me deixar abalar e, enquanto caminhava, afastando-me do local, lembrei de outra cena cadavérica, ocorrida em minha infância. No interior, aos nove anos de idade, vi em meio há muitas pessoas um homem em seu caixão, que estava aberto na beira da calçada aguardando o momento certo de ser levado ao cemitério. O homem barbudo tinha sido atropelado e estava com o braço despedaçado, com uma grande tira de carne pendurada. Parecia ser somente um objeto feito de carne e osso, sem utilidade nenhuma. E era, ganhando essa condição pós-morte.

Voltando a mim, já próximo ao calçadão, estranhamente, ao sair da orla marítima e chegando à beira da avenida, a fim de pegar o carro que estava do outro lado, acabei presenciando um trágico acidente. Uma senhora idosa, que devia ter seus setenta e poucos anos, atravessou a avenida distraidamente, sendo fortemente atingida por um veículo de pequeno porte, que jogou-a há cinco metros de distância da colisão. Desesperado, o motorista, que diga-se de passagem não teve culpa, fugiu sem prestar socorro ou sequer para ver se a vítima estava viva ou morta. E realmente o acidente foi fatal. Testemunha ocular do crime, que aconteceu próximo de onde eu estava, tive que prestar depoimento no local sobre o ocorrido, mesmo que chocado com a trágica visão.

Num momento infeliz, por ter assistido a tanta tragédia, percebi uma curiosidade que já virou coisa batida: o ser humano gosta de ver a morte, apesar de temê-la. A multidão que se formou na avenida superou a já formada na beira da praia. A tevê chegou e fez a matéria que, claro, aumentou a audiência naquele fatídico dia.

Quem nunca viu o trânsito parar por conta de um acidente fatal? Ou viu o interesse das pessoas em folhear a página policial do jornal diário, “dissecando” as fotos explícitas de pessoas mortas brutalmente? A reação das pessoas varia sempre entre nojo, compaixão, espanto e às vezes, até mesmo, de satisfação, por ver algo misterioso e real.

Momentos como esses acontecem milhares de vezes por dia em todo mundo, seja por que motivo for. E sempre, sem exceções, despertam o interesse macabro das pessoas em ver, rever, comentar e se deliciar com a tragédia alheia. E quando quem presencia é pessoa próxima à vítima, a reação muda e se transforma em histeria.

O ser humano adora a morte... Dos outros! A morte anônima é sucesso no nosso mundo.


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(Crônica publicada no meu primeiro livro, O Que Importa é o Caminho - 2004)