sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O Fabuloso Diálogo Entre a Senhorita Liberdade e o Senhor das Palavras


Era uma manhã sombria. O mundo fervia há milênios...

Foi quando um fenômeno inédito rasgou os cinzentos céus do planeta Terra. Uma fenda iluminada se abriu. Imagem extasiante, mas que passou incólume a toda cega humanidade. Bom, a quase toda ela, pois eu, sim, a tudo vi. Foi como se o tempo tivesse cedido a tão extraordinário fato. E enquanto olhava àquilo tudo impressionado, percebi então o fabuloso diálogo...

- Senhorita Liberdade, sou o Senhor das Palavras! Aquele que sempre tenta bailar junto a ti, na ânsia de descrever-te. Mas... Como definir-te? Sigo unindo letras, a tentar decifrar-te. Donde vens? Quem és? Como chegaste até aqui?

- Sou a Senhorita Liberdade, como bem disseste. O que queres tu de mim? Deixas-me bailar! Não me venhas tolher com tuas vãs divagações gramaticais!

- Palavras sou. Palavras escrevo. Palavras que se soltam de mim. Palavras que se perdem no afã de saber apenas quem és.

- És hábil com elas, reconheço. Contudo, cuidado! Sabes mesmo utilizá-las até mim?

- Sim! Sou o Senhor das Palavras! Aquele que busca a redação. Eu, que me encontrava um tanto dicionário. Eu, que não esperava encontrar-te assim, tão visível em mim. Palavras vêm e vão. Preciso de ti para seguir adiante! Em que página estamos?

- Nas páginas do incontido, Senhor! Em mim nada se aprisiona. No éter do espaço imensurável vivo, provocando apenas os ousados seres que acabam por me enxergar ante tanta cegueira. Senhor das Palavras, podes ser perigoso! Palavras livres, livres palavras... Quem te segura?

- Nunca dancei. E agora me pego a bailar contigo. Liberdade e palavras, nós, tão distantes e tão próximos, ora escritos, ora verbais, ainda incógnitos. Como poderei definir-te se jamais a tive?

- Palavras são cegas. Os homens também. Permeio a tudo e ainda assim tão ignorada sou. Cuidado com as tuas palavras, Senhor! Muito mal já se foi feito com elas!

- Liberdade... Quem te alcança???

O diálogo se encerrou. A fenda se fechou. O céu novamente descoloriu. O tempo retomou seu lugar, implacável. A cegueira humana persistiu. E eis que aqui vos encontrais. Resultados disso tudo. Apalavrados. Prisioneiros das vossas próprias armadilhas. Humanas palavras presas no dicionário da vida.

Quem sou? Chamo-me esperança. E cá estou, livre, mas aprisionado em vossas próprias divagações.

As manhãs permanecem sombrias. O mundo ferve há milênios...