sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Seis Séculos e Fogo

A noite caía infalível. Na Praça do Rosário, em Caruaru, a adolescente de 14 anos sentia-se mulher. Atraída pela ousada proposta de um homem em sua moto, partiu na garupa rumo a um programa que prometia. E foram juntos, ao que tudo indicava, na ânsia por ‘diversão’.

Seis séculos antes, um homem decidiu caçar na cidade de Plácido, na Itália. Atraído pela emoção da caçada, danou-se a explorar suas habilidades. Partiu valente. E foi montado em inconsequência, ao que tudo indicou, na ânsia por ‘diversão’.

Era 19 de fevereiro.

Em Caruaru, a noite não poderia ficar às escuras. Num sítio localizado na Zona Rural da cidade, o motoqueiro despiu-se de humanidade. Estuprou a adolescente com violência e ateou fogo ao corpo dela antes de fugir, sem deixar rastro.

Em Placência o fogo também surgiu, por mãos inconsequentes. Nas imediações da cidade, as chamas involuntárias se espalharam e causaram enorme prejuízo aos moradores. Atônito, o homem fugiu sem deixar rastro.

Era 19 de fevereiro.

Seis séculos e fogo. Se de um lado a crueldade e a falta de humanidade imperaram absolutas, de outro a imprudência foi o mote. E enquanto o motoqueiro continua foragido, o italiano, ao saber que um inocente havia sido acusado e preso, voltou, assumiu a culpa e utilizou seus fartos recursos financeiros para indenizar os prejuízos.

O motoqueiro, se pego, terá seus minutos de “fama” policial e ficará marcado como nefasto assassino. O italiano, que depois do ocorrido dedicou a vida aos semelhantes, ficou conhecido como São Conrado de Placência, beatificado pela Igreja Católica.

O passado e o presente, assim, se tocaram nesse 19 de fevereiro. O fogo foi elemento comum – os atos e consequências, não.

É... Os tempos mudaram...

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7 comentários:

  1. Sidney
    Sua correlação é interessante, você escreve muito bem e seu relato ajuda a uma tomada de consciência sobre a violência. Porém, vejamos, se no lugar de um santo como na lenda, você usasse Nero, Imperador de Roma, e contrastasse com Madre Teresa de Calcutá ou Irmã Dulce. Não sairíamos do lugar. Minha opinião sabendo desde já que o amigo não concorda. O homem não mudou, seu instinto é o mesmo ontem e hoje, é movido pela cobiça, pelo poder, vaidade e luxuria. Mantenho as exceções. Algumas pessoas evoluem espiritualmente, outras não. A violência de hoje não é pior nem melhor que séculos atrás. Permita-me não citar exemplos aqui seria enfadonho, você os conhece. Mais isso é conversa para pelo menos os três meses.
    Grande Abraço e Saudações Tricolores.

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  2. A maldade neste novo século é algo muito real. Real e tangível, a maldade (seja em qualquer nível) requer nossa avaliação. É uma ameaça individual e/ou coletiva. De forma alguma podemos achar essa questão trivial. A maldade e a injustiça são características de um ser humano inferior (pense como uma personificação da maldade real) para desculpar-se por seus próprios delitos.
    Vê-se como é curioso que alguns vencedores (leia-se ser humano inferior) se fazem deuses e infligem o uniforme diabólico aos pobres vencidos. Falam assim os céticos, mais ingênuos que irreverentes ... O mal então seria o bem; seria covardia esquecer as injúrias; a modéstia seria baixeza; a inocência seria taxada de infâmia. . . Para os vícios, tudo ao contrário: o orgulho seria grandeza de alma, a avareza sábia previdência, a arrogância e a cólera seriam marcas de generosidade de alma; a intemperança e a luxúria garantiriam boa saúde física e moral; as injúrias; a modéstia seria baixeza. Será possível que seres pensantes possam iludir-se com tais sofismas?

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  3. Estou apreciando muitissimo seus temas. Faz nossa mente dormente estagnada por-se em funcionamento.

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  4. Entendo sim, grande Paulo. A questão, apesar da comparação de tempo, é que hoje em dia tudo está mais, digamos, banalizado. Mas a ideia é promover mesmo essa reflexão. Valeu e grande abraço rubro-negro do Sport!

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  5. Parabéns por saber fazer uso das emoções para fazer aflorar o racíocinío dos que ainda o tem.

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