sábado, 22 de maio de 2010

O Toureiro

Arena sempre lotada. Touros indomáveis à solta. Ameaças ininterruptas. Risco de morte iminente. Desrespeito à vida. Culto à mediocridade. Tradicionalismo decadente. Tragédia que encanta. Diversão às custas do sofrimento alheio.

A arena é o mundo. Os touros, os ignorantes. As ameaças, fruto do desequilíbrio coletivo. O toureiro, assim, é cada um de nós - viventes nesse espetáculo perigoso e fascinante chamado vida. Nascemos. Arriscamo-nos. E com o ornamentado pano do jogo de cintura, teimamos em querer destruir os touros indomáveis que nos ameaçam.

Vivemos (ou sobrevivemos). E esquecemos que essa batalha covarde numa arena é desnecessária. Infligir dor para não ser atingido? Entreter para satisfazer nossa ultrapassada ânsia pelo poder? Subjugar para não querer ser subjugado?

Arriscamo-nos, é verdade. E é aí onde desandamos. Viver, então, deveria ser apenas nobre ato de contrição perante a própria magia de estar vivo. Com dignidade. Fazendo da arena não um campo de batalha, mas, sim, um espaço global que possa ser compartilhado – touros e toureiros em perfeita sintonia.

Eis a verdadeira tourada. Eis o verdadeiro espetáculo. Estou tentando ser o verdadeiro toureiro...