segunda-feira, 23 de março de 2009

Arabela


Chagas. Eis a alcunha do ex-noivo tatuada na mão direita. Tiras de tinta que não se tira – nem da pele, nem do coração. E lá se foi o laser invadindo a tez como se fosse isso lazer.

Pele queimada, Chagas se foi. E deixou nela uma última chaga: cicatriz na mão direita, dor no coração que não se endireita mais.

A beleza de Arabela acinzentou. Cinzas descamadas sobre a cama. O sorriso refletiu a ironia de um pensamento: “Só rindo mesmo”... Pó em grão. Sol e não. Solidão.

Onde está o teu amor agora, Arabela? Na mão? Ou no coração?
.
.
(Da Série "Os Dedos Por Trás da Língua", de Sidney Nicéas)

quinta-feira, 19 de março de 2009

Venhamos e Convenhamos!


Aborto. Excomunhão. Máquina de lavar. Preservativo. Essas foram as palavras mais pronunciadas pelo mundo católico nas últimas semanas. E me fizeram lembrar do papel da religião na vida humana (não somente da católica, mas de todas elas espalhadas pelo globo terrestre) – qual é mesmo?

Enquanto as religiões apregoam suas ‘filosofias’, os ‘fiéis’ agem na contramão. Afinal, num planeta onde a maioria dos bilhões de habitantes afirma ser seguidora de alguma seita, por que vivemos mergulhados na inferioridade moral? Condena-se o aborto e o número deles só cresce; rejeita-se o preservativo e o seu uso é cada vez maior – ainda bem, embora por trás disso muito se estimule a promiscuidade; repudia-se a violência e ela impera nos quatro cantos do mundo. Qual o sentido disso tudo?

Ao invés da fé raciocinada vemos manipulações. Interesses institucionais sobrepõem-se aos espirituais e morais. Homens falíveis apresentam-se como santidades. Filosofias são forjadas para captar dinheiro. O poder corrói as intenções. E o verdadeiro sentido do ‘religare’ se perde nessas vãs filosofias.

Jesus. Buda. Krishna. Gandhi. Madre Teresa. Yogananda. Irmã Dulce. Chico Xavier. Dom Hélder Câmara... Homens extraordinários. Pregadores do amor como verdadeira religião, sem rótulos nem bandeiras segregadoras. Seres de diferentes regiões, conectados não pelo propósito institucional, mas sim pela essência divina do homem, tão ignorada por todos.

Venhamos e convenhamos! Qual o papel das religiões em nosso mundo, afinal? Vale a pena a reflexão...

sábado, 14 de março de 2009

Homofobola


Já passou o tempo em que assumir a própria homossexualidade era algo catastrófico (será mesmo?). A verdade é que o mundo hoje é bem mais ‘colorido’. E não há segmento que se exclua. Nem mesmo o mundo do futebol.

Das aventuras de Ronaldo com travestis ao jeito nada másculo de Richarlyson, o universo da bola, sempre tão ‘masculino’, esconde o seu lado mais gay. Bom, pelo menos escondia...

Na rodada da última quarta-feira pelo Campeonato Pernambucano, um lance em especial chamou a atenção. E não foi o gol de Mondragon, goleiro do Sete de Setembro, nem o petardo de Igor, do Central. A cena mais marcante – e praticamente ignorada pela mídia – foi o selinho de Anderson Lessa em Adriano Magrão, na comemoração do primeiro gol do Náutico contra o Salgueiro.

Beijinho na boca entre dois marmanjos em pleno campo de jogo? Pois é. Eu vi. E ainda que isso não seja fato isolado nesse planeta, não deixa de chamar a atenção, especialmente pelo fato de que o futebol tem sido associado, desde sempre, a coisa de ‘macho’. Ainda mais aqui em Pernambuco.

Tem gente dizendo por aí que os dois citados atletas são bastante íntimos. Outros, que tudo não passou de uma infeliz coincidência – os lábios se encontrarem. Bom: a verdade é que ninguém tem nada a ver com isso, afinal, o que danado interessa a opção sexual dos outros?

É... Talvez isso seja o que eu poderia definir como ‘homofobola’ – a homofobia ainda tão acentuada no universo da bola. E enquanto a humanidade vai quebrando suas barreiras, o mundo do futebol persiste nesse ‘esconde-esconde’ – será mesmo?

quinta-feira, 12 de março de 2009

Entrevista com o 'Dom'


- Aborto é crime, Dom?
- Claro que sim!
- Certo. Mas, e o caso da menina de nove anos que...
- Excomungada!
- E os médicos?
- Excomungados!
- Mas eles fizeram isso para salvar a vida dela...
- Excomungados!
- Mas a lei permite...
- Excomungados, oras!!!

Breve silêncio.

- Mas os pais dela o senhor também...
- Excomungados! Todos eles!!!

Novo silêncio no recinto. Desta feita, o entrevistador tenta usar sua habilidade.

- Está certo. Mas o senhor poderia explicar melhor essa coisa da excomunhão?
- Você não sabe?
- Sei, sim. Mas é que...
- Excomunhão, ora (!), é a punição máxima dada pela igreja católica. Estão todos perdidos!
- Mas Jesus não pregou a misericórdia e...
- Por mim, vão queimar no inferno!
- Mesmo que se arrependam depois?
- Aí posso até negociar, no máximo, um purgatoriozinho...

O silêncio retorna.

- Dom, e o padrasto que abusou da menina? Ele também foi excomungado?
- Não...
- Por quê?
- Bom... Ele não matou ninguém, não feriu as normas da igre...
- E pedófilo estuprador entra no reino do céu?
- Mas é que ele ainda pode se regenerar e...
- E por que o senhor não o excomunga também???

O silêncio precedeu a resposta do arcebispo.

- É isso aí! Está Excomungado!
- Mas ele disse que é evangélico...

O Dom ficou sem ação. O entrevistador ‘caiu’ em cima.

- Que punição é essa, hein, Dom? Ou deveria dizer... deus?

Cara avermelhada e olhar enfezado, o arcebispo retrucou:

- Se o senhor não sair daqui agora, também estará excomungado!

O entrevistador se levantou e, caminhando em direção à saída, deixou suas últimas palavras:

- Está bem então, Dom. Como eu também não sou católico... Vejo o senhor no quinto dos infernos!!!
.
.
(Sidney Nicéas)

sexta-feira, 6 de março de 2009

Quem Quer Viver Para Sempre?

.
Pálpebras cerradas. Membros enrijecidos. Matéria inerte. Aqui jaz um cadáver. Corpo agora ‘oco’, em decomposição, iniciando a ‘volta ao pó’. Para onde fostes, ser vivo?

Lágrima nos olhos, eis os ‘ficantes’. Aprisionados pela sensação de perda material. Confundindo o ‘ser’ com o ‘corpo’. Agora, sim, lembrando do lado bom daquele que se foi – ignorando que mais defeitos viam quando o indivíduo outrora vivo estava.

Outro ceifou. E outro. Mais outro. E assim é a cada segundo nesse plano. Morrer é uma constante. Tola, contudo, é a crença humana que desfaz a lógica ao acreditar que a vida é finita – e que a morte é uma perda irreparável.

Apreensão... Novo choro é ouvido. Lágrimas, agora, só de alegria. E enquanto uns partem, outros chegam. As gerações se sucedem. O ciclo vital se perpetua. A humanidade se renova. E o plano do (ainda) desconhecido permanece a mover as engrenagens da vida nesse intrigante planeta chamado Terra...
.
.

.
Lembrança, companheira inefável daqueles que ficam. Hoje lembrei do meu irmão caçula, dos meus avós paternos, da minha ex-cunhada – todos já se foram, mas continuam vívidos em mim. Daí, olhei para o meu filho, hoje com 11 anos de idade. Pensei na minha sobrinha, ainda bebê. Da minha vizinha que ontem mesmo deu a luz... E esse paralelo se fez presente.

Pois é... Quem quer viver para sempre?

domingo, 1 de março de 2009

O País de Um Eixo Só - Parte 2


Corroborando com a postagem do dia 30/10/08 (LEIA AQUI) e, claro, completando-a, eis que a Rede Globo, mostrando o seu sentido mais avesso de ‘nacionalidade’, ‘jogou’ o futebol carioca Nordeste adentro.

Agora, Pernambuco e os demais estados nordestinos não possuem mais um bloco exclusivo do ‘Globo Esporte’. As notícias esportivas locais são veiculadas dentro do noticiário estadual (aqui, o NETV). No horário outrora destinado às afiliadas, o nordestino tem ‘empurrado goela abaixo’ as notícias do futebol carioca...

O que somos? Cariocas, por acaso?

Essa é só mais uma peça pregada pela Globo. Uma peça bairrista e mesquinha. E não me venham falar de auto-preconceito (e que a emissora alterou seu quadro por outras ‘razões’ – se houvesse alguma ‘razão’ para tal, o espaço poderia muito bem ser preenchido com notícias realmente nacionais). Não bastasse ter o eixo Rio-São Paulo inundando a programação ‘nacional’ da emissora, agora vem mais essa.

Hoje, domingo, 1º de março de 2009, liguei a TV pretendendo assistir ao jogo do Campeonato Pernambucano, Vitória x Sport. Ainda passava o famigerado Domingão do Faustão. E eis que o apresentador anunciou, ignorando outros diversos jogos que seriam transmitidos pelas afiliadas Brasil afora: “Você vai conferir agora Santos e São Paulo e a final da Taça Guanabara entre Resende e Botafogo”.

O que somos? Paulistas e cariocas, por acaso?

Enquanto o futebol do Rio de Janeiro sobrevive graças a esquemas milionários escusos, a maior emissora do país mostra que dessa lama faz parte - e ignora o ‘todo’ para enfatizar única vertente. Alimenta essa ânsia de fazer os clubes do citado eixo (não só os cariocas) cada vez maiores – o resto que se dane. Enfim, acentua as enormes diferenças desse Brasil gigante. E olhe que estou me referindo aqui apenas ao futebol...

O que somos? Idiotas???

Deixar de assistir o canal não é solução (afinal, a TV é gratuita e tem obrigação de ser nacional). É preciso mostrar que não somos trouxas. Que somos o berço dessa nação e que merecemos, sim, respeito, igualdade e valorização. Quer saber como? Basta divulgar isso e enviar um montão de e-mails para lá externando, com toda a educação peculiar ao povo nordestino, que não somos idiotas:

Webmail do Globo.com: webm@redeglobo.com.br
PE360 Graus: http://pe360graus.globo.com/pe360graus/faleconosco.aspx
.
.
OBS.: a imagem não é criação minha - ela já existe há algum tempo e vive rolando pela web...