quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O Homem, o Bêbado e a Testemunha


Eu vi. Agressões de um corpo ‘são’ para com um moribundo. Socos e empurrões foram desferidos pelo homem, deixando o bêbado ainda mais vulnerável ao chão. Uma covardia.

Ainda que testemunha distante, a cena me perturbou. Pela violência, pela covardia, pela gratuidade. Hoje quase não há mais diálogo. As coisas se resolvem no braço (na faca, na foice, no revólver...). Onde anda a nossa racionalidade?

Uma semana se passou e eis que me deparei com o agressor, casualmente, na rua. Nossos olhares se cruzaram e eu deixei transparecer, na minha incisividade, meu julgo contundente. Quem era ele para bancar o valentão? ‘Covarde!’, pensei. E segui em frente, mantendo um silêncio impiedoso.

Agora, passados os fatos, sinto-me envergonhado. Quem sou eu para julgar aquele homem? Ainda que nenhuma palavra eu tenha direcionado a ele, acusei-o e, talvez, tenha feito pior do que ele havia feito outrora com o bebum. E foi a minha consciência retilínea que afrontou a mente acusadora, mostrando-me que viver é mesmo uma experiência fundamental.

Ninguém é melhor do que ninguém. Essa é a constatação. E eu sou testemunha.