quarta-feira, 23 de julho de 2008

A Quarta Idade


Algumas horas num hospital público. Miúdo foco no nosso precário sistema de saúde. Constatação de uma pobreza interminável. Necessidade. Boa vontade. Dificuldades. Ilusão.

Inserido nesse conturbado quadro, acompanhei a luta pela vida. Um coração de meia-idade parecia não agüentar mais o próprio dono. Cinco paradas cardíacas em menos de quatro horas. E a luta dos médicos (e do próprio paciente, ainda que inconsciente) contrastava com o desespero dos parentes. A vida por um invisível fio, movido pelo desconhecido.

A valentia do paciente traduzia a fragilidade do corpo humano. Paradoxo impertinente. O desgastar da máquina corpórea vem sendo acelerado pelos indivíduos, viventes num incoerente sistema coletivo. E a mente, comandante suprema desse maquinário fantástico, dana-se a distorcer o cotidiano, transformando paz e saúde em preocupações e doenças.

Sistema de saúde congestionado, órgãos do corpo em colapso, gente fazendo nascer uma nova etapa na vida humana: a quarta idade. Superando a fase idosa, o homem agora mergulha de vez no abandono da própria saúde. É o fruto da inconseqüência de vidas agitadas, desregradas ou simplesmente omissas.

Nesse contexto, vale citar o Dalai Lama, que muito bem definiu a atual vida do ser humano na Terra:
.
Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente, nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... E morrem como se nunca tivessem vivido”.