domingo, 15 de junho de 2008

Feito Nordestino


Eita gripe da peste! Pense que eu me arrombei nesses últimos quatro dias, arriado com uma virose daquelas! Pensei que ia me lascar, mas tô de volta, firme e forte (feito nordestino).

Caí assim depois da final da Copa do Brasil, entre Sport (PE) e Corínthians (SP), realizada na capital pernambucana, na última quarta-feira (11/06). Me esgoelei, torci feito um condenado, quase dei minhas tripas para esse título ficar aqui em Pernambuco. E deu certo (embora tenha eu ficado nas últimas). Eu tô mesmo feliz que só a peste!

E minha felicidade, mesmo com essa gripe da moléstia, tem muita explicação. Primeiro, foi o terceiro título nacional do meu time do coração, o SPORT (que ganhou mostrando força, raça e talento - feito nordestino); segundo, foi uma conquista pernambucana, de uma nação que, de novo, se sobrepôs à esperteza de alguns; terceiro, foi a prova de que somos um povo guerreiro, que não se submete a artimanhas de quem acha que detém o poder. Sem dúvida, mais um feito nordestino.

Segurei esse tema durante algumas semanas, esperando o momento ideal (este) para tocar no assunto. E para quem tiver achando que estou sendo bairrista, lá vai: durante toda a Copa do Brasil, fui guardando os comentários maldosos e preconceituosos de muitos paulistas, gaúchos, cariocas e novamente de paulistas contra os pernambucanos e nordestinos (e tome pecha de índios, farofeiros, favelados, morta-fomes, desnutridos, sub-raça, para não falar em outras piores). E isso em situações extra-jogo, afirmações de pessoas que se sentem superiores apenas por ter nascido no Sul-Sudeste (como se fosse isso grande coisa).

Afora as hostilidades que envolveram (e normalmente envolvem) as partidas decisivas (diga-se, provocadas por ambos os lados), esse preconceito, que transcende o mundo futebolístico, reavivou a questão do ‘Nordeste Independente’, magistralmente traduzida na letra de Ivanildo Vilanova, cuja música tem mesmo título. E a canção foi executada em pleno estádio, logo após a vitória do Sport contra a equipe paulista, como que em resposta a todas as tentativas de desrespeitar o nosso povo (inclusive, contra o Náutico, naquela confusão envolvendo o Botafogo, nos Aflitos, cerca de 10 dias antes).

Não tenho dúvidas em afirmar: existe um imenso e absurdo preconceito contra os nordestinos no Sul-Sudeste do país. E, infelizmente, tem gente nossa que aceita e, de tão passiva, acaba estimulando isso (vide o nosso Presidente, Lula, que expressou com todas as letras que torceria para o Corínthians na decisão contra o Sport, ignorando sua raiz, seu povo, sua cultura - era melhor ter ficado calado).

Por isso mesmo, proponho: quem quer ver o Nordeste independente? Eu quero! Independência sem separatismo (vamos consumir mais o que produzimos! Valorizemos mais os nossos talentos! Vamos dar menos audiência aqueles que só querem nos manipular - redes de televisão que acham que o Brasil se resume a São Paulo e Rio de Janeiro -! Vamos parar de olhar mais pra “lá” e olhar mais pra “cá”!). Independentes, não estaremos separados. Não seremos discriminadores. Não cometeremos os mesmos erros de uma parcela que se acredita superior.

Reitero: quem quer ser independente? Basta mudar a postura ante o todo, sem desunião, apenas com independência. Com firmeza. Feito nordestino mesmo. E pra quem não conhece a letra de Ivanildo Vilanova, é só conferir o post seguinte (abaixo)...

Nordeste Independente

“Já que existe no sul esse conceito
Que o nordeste é ruim, seco e ingrato
Já que existe a separação de fato
É preciso torná-la de direito
Quando um dia qualquer isso for feito
Todos dois vão lucrar imensamente
Começando uma vida diferente
De que a gente até hoje tem vivido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente


“Dividindo a partir de Salvador
O nordeste seria outro país
Vigoroso, leal, rico e feliz
Sem dever a ninguém no exterior
Jangadeiro seria o senador
O cassaco de roça era o suplente
Cantador de viola o presidente
O vaqueiro era o líder do partido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente


“Em Recife o distrito industrial
O idioma ia ser nordestinense
A bandeira de renda cearense
“Asa Branca” era o hino nacional
O folheto era o símbolo oficial
A moeda, o tostão de antigamente
Conselheiro seria o inconfidente
Lampião, o herói inesquecido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente


“O Brasil ia ter de importar
Do nordeste algodão, cana, caju
Carnaúba, laranja, babaçu
Abacaxi e o sal de cozinhar
O arroz, o agave do lugar
O petróleo, a cebola, o aguardente
O nordeste é auto-suficiente
O seu lucro seria garantido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente


“Se isso aí se tornar realidade
E alguém do Brasil nos visitar
Nesse nosso país vai encontrar
Confiança, respeito e amizade
Tem o pão repartido na metade,
Temo prato na mesa, a cama quente
Brasileiro será irmão da gente
Vai pra lá que será bem recebido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente


“Eu não quero, com isso, que vocês
Imaginem que eu tento ser grosseiro
Pois se lembrem que o povo brasileiro
É amigo do povo português
Se um dia a separação se fez
Todos os dois se respeitam no presente
Se isso aí já deu certo antigamente
Nesse exemplo concreto e conhecido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente


“Povo do meu Brasil
Políticos brasileiros
Não pensem que vocês nos enganam
Porque nosso povo não é besta.”
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(Ivanildo Vilanova)