domingo, 27 de abril de 2008

Firmamento de Nós


Do alto o que se vê é um coração, cheio de células e artérias. Minúsculos pontos, nós, no solo e no firmamento. Enquanto a nave voa, o meu pensamento flutua num imenso invisível. Torno-me uma nuvem, repleto, leve, vagante, pairando sobre esse músculo pensante, o planeta Terra, plantado no seio divino.

Assim como eu, flutuam no espaço aéreo outras nuvens, talvez mais espessas, talvez mais leves, talvez alheias a esse coração pulsante que nos abriga. Somos bilhões de pontos nesse pulsar, uma massa vagante, como densas nuvens humanizadas, contudo, dispersas da almejada unicidade.

Entrelaçados e segregados, preenchemos um firmamento de nós, coletivos, emaranhado errante, viventes, morrentes, renascentes. E persistimos a vagar vida a fora. Mas o vôo continua. A Terra pulsa. E o pensamento permanece, a vagar, na busca da ainda impenetrável utopia da felicidade humana...
.
.

#
.
.

Basta um miúdo olhar no cotidiano para constatar o firmamento de nós que a vida é. A nuvem densa também contagia o serviço público de saúde, que anda um emaranhado só.

Ontem, a PM foi acionada para conter um tumulto no Hospital dos Servidores, no Recife. Uma médica perdeu as estribeiras após inúmeras reclamações de pacientes e acompanhantes, queixosos quanto à demora no atendimento e falta de médicos - viventes e morrentes sufocados pela falta de senso coletivo.

A população continua carente de estrutura. E de humanidade, justiça, tratamento igualitário. O básico que poucos esbanjam falta para a maioria. Por isso, aumenta cada vez mais a impenetrabilidade da utopia da felicidade humana.

E o meu pensamento permanece a vagar...