sexta-feira, 4 de abril de 2008

54 Pés


Olho para baixo...
São apenas os meus dois pés...

Antes era os pés da besta:
Pé de pau, pé de mato, pé de planta,
Pé de moleque, pé de morro, pé de rampa,
Pé de anjo, pé de serra, pé de pinhão,
Pé de chulé, pé de chuva, pés no chão.

Depois foi tudo ao pé da letra:
Pé de lancha, pé do ouvido, pé de cobra,
Pé de pato, pé de gente, pé de cabra,
Pé no saco, pé de coelho, pé de guerra,
Pé na tábua, pé na estrada, pé de atleta.

Mais pra frente, pé na bunda:
Pé do toitiço, pé nas costas, pé de mesa,
Pé de dinheiro, pé rapado, pé de cana,
Pé grande, pé do cipa, pé de chumbo,
Pé de moça, pé de meia, pé de juízo.

E, no final, só pé de galinha:
Pé quente, pé frio, pé de chinelo,
Pé de ouro, pé de boi, pé de valsa,
Não tá de pé, nem vai dar pé, só pé de escada,
Pé na jaca, pé na lama, pé na cova.

Olho para baixo...
São apenas meus dois pés...
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Com quantos pés se faz uma vida? Andamos por aí, pés no chão e cabeça para o alto, ávidos por viver, sedentos por um planeta mais humano - e, por que não, mais divertido. Afogamo-nos em risos e lágrimas e entramos com os dois pés no que acreditamos ser o melhor para nós mesmos. Mas, infelizmente, o mundo anda girando com o pé esquerdo.

Tomando pé das notícias locais, deparei-me com algo aterrador: o tio que matou a sobrinha de três anos a foiçadas, ontem, em Jupi (PE). Ainda estou de quatro pés com o impacto da nota - e da barbaridade cometida pelo alcoólatra, que quase foi linchado pela população.

O ser humano anda vivendo sem pé nem cabeça. Quando tomaremos pé das nossas próprias noções de civilidade? Quando daremos pé de nós mesmos? Até quando permaneceremos sem um pé de juízo?

Assim, a minha intenção de brincar com a ‘Língua’ através dos ‘pés’ acabou não dando pé. Fazer o quê? Essa é a nossa triste e real gramática...