terça-feira, 25 de março de 2008

O vazio e o Absoluto

O que não é, não sou.
O que é, sou.
Sou o todo, o tudo.
Só preciso me descobrir de verdade...



Ausência. Eis o vazio que parece infinito e que em mim teima em habitar. O que esse invisível representa? Por que ele persiste? O que significa?

E eu que pensava ser repleto. Tudo tenho. Tudo em mim habita. Contudo, vez por outra me flagro esvaziado, como se o que tenho e o que sou não me bastassem.

Enxergar o vazio é algo que soa estranho, mas, nesse momento, vejo-o. Percebo o seu reflexo no mundo exterior, nas pessoas que nada têm e que vivem, sorriem, apenas existem sem sequer se incomodar com o que pretensamente lhes faltam.

Volto ao vazio. Continuo a fitá-lo, só que dentro de mim. Olho-o de frente, ‘olhos nos olhos’, como se fôssemos íntimos. Enxergo... Somos apenas um, criador e criatura, cria minha representando o que ainda não sou.

Eu sei. O tempo há de passar e, com ele, crescerei. Aí, não sobrará espaço para o que não é. Serei pleno. Tão somente eu. Absoluto...
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A morte do ator australiano Heath Ledger ainda repercute. O vazio da perda, ofuscada pela repercussão mundial, foi reavivada numa exposição na Austrália, um concurso para retratistas. A pintura hiper-realista, feita por Vincent Fantauzzo e concluída na véspera da morte de Ledger, mostra o ator ao centro, ladeado de seus dois outros ‘eu’ cochichando ao seu ouvido.

Para o retratista, a sensação de vazio é uma constante. "Olhar por muito tempo para o quadro me emociona e ao mesmo tempo me dá calafrios, parece que ele ainda está ali diante de mim, posando", diz Fantauzzo. Talvez seja o invisível da morte, por nós ainda incompreendido.

A obra será doada à família do ator. E, ao que tudo indica, o tão repetido vazio se perpetuará. Quando nos tornaremos absolutos, enfim?