terça-feira, 11 de março de 2008

Tragicômico

Flagro-me em inquietantes divagações.
Penso, falo, ajo.
Enxergo-me muitas vezes infantil,
Por vezes tão maduro,
Vez em quando quase podre.

O que sou?

Palhaço infeliz!
Ser humano repleto!
Lindo, horrível, chato, engraçado...
Tragicômico...



88 anos. Senilidade aparente na face, no corpo, na mente. Viajar de avião, uma belezura! Na poltrona confortável da aeronave, um mirar em todos os rostos que a enfadada visão podia alcançar. As rugas aparentes na face murcha denotam um passado que nele deixara profundas marcas. A viagem é longa, mas não tanto quanto a própria jornada até ali vivenciada.

O tempo segue. Os pensamentos vagueiam. Eis que, num momento inesperado, o cansado olhar viu um semblante de pureza. Na poltrona ao lado viajava a garota de 11 anos, sozinha, alheia ao mundo. O leve sorriso nos lábios do velho foi apenas um sinal - contentamento pueril ou malícia indisfarçável? -, ali mesmo encenado. Em poucos segundos o quadro se consolida. A menina levanta-se abruptamente, lágrima nos olhos, nó na garganta. O tumulto estava consolidado.

O assédio sexual, assim, ganhou destaque na mídia. O que leva um idoso a se comportar de tal maneira? Vê-lo se defendendo na TV deixou uma sensação que aliava comicidade e tragédia, o vovô senil acusado de algo que, pelo que se vê, há muito se tornou coisa do passado. Eis mais um quadro tragicômico de um mundo movido a manchetes policiais.

88 anos. Senilidade aparente na face, no corpo, na mente...
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* O texto acima foi baseado em fato verídico, acontecido num vôo São Paulo-Petrolina, em 10 de março de 2008. Esse é o nosso mundo...